segunda-feira, 19 de maio de 2014

Cobrança - Moacyr Scliar

Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente".
        ― Você não pode fazer isso comigo ― protestou ela.
      ― Claro que posso ― replicou ele. ― Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
        ― Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
        ― Já sei ― ironizou ele. ― Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
        ― Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
       ― Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.

        Neste momento começou a chuviscar.
        ― Você vai se molhar ― advertiu ela. ― Vai acabar ficando doente.
        Ele riu, amargo:                                                                                                                     
        ― E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
        ― Posso lhe dar um guarda-chuva...
        ― Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
        Ela agora estava irritada:
       ― Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
      ― Sou seu marido ― retrucou ele ― e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
       Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.


 A cronica fala de um cobrador que vai cobrar uma mulher que lhe deve um dinheiro a muito tempo. Ele carrega um cartaz que diz ''Aqui mora uma mulher inadimplente'', esse homem é seu marido que está cobrando uma geladeira que ela comprou e ele reclama que não consegue pagar as prestações.

Peladas Armando Nogueira

Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.

E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: "eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe." Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.

Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro jogo sem camisa.

Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.

Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.

Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati.

No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.

Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.

Nova saída.

Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.

O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar.

Em cada gomo o coração de uma criança.



 Conta uma realidade porque ninguem mais ta nem ai pra nada , ver uma velhinha passando ou uma mãe empurrando um carinho é sem graça de ver , mais jogar futebol sempre é melhor.




o amor acaba-Paulo Mendes Campos

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.


Escolhi essa crônica porque concordo com o tema dela "O amor acaba", ele pode realmente acabar por qualquer motivo fútil, ele nos deixa ou troca o amor por outro sentimento, o ser humano é algo aleatório, cada um tem o seu modo de viver e pensar.

Paródia -Já viu? Música "cê topa" Luan Santana

Já viu?

Já imaginou se a gente for
Um pouco diferente no nosso problema?
Já pensou transformar
Nossos números em amizade?


Presta atenção, em tudo a gente se esbarra.
Somos as pessoas mais infelizes.
Chega do medo de apanhar.
Eu tenho uma proposta para te fazer...


Eu, vizinho, dois números, um problema,
um prédio, numa rua chamada zebra
É aí, já viu?


Eu, vizinho, dois números, um problema,
um prédio, numa rua chamada zebra
É aí, já viu?


Presta atenção em tudo a gente se esbarra.
Somos as pessoas mais infelizes.
Chega do medo de apanhar.
Eu tenho uma proposta para te fazer.


Eu, vizinho, dois números, um problema,
um prédio, numa rua chamada zebra
É aí, já viu?


Eu, vizinho, dois números, um problema,
um prédio, numa rua chamada zebra
É aí, já viu?

CEM CRUZEIROS A MAIS - FERNANDO SABINO

CEM CRUZEIROS A MAIS


  Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros e mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
- Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
- Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
- Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
- Seu colega, então. Um de bigodinho.
- O Mafra.
- Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
- Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
- Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
- Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação - agora iria até o fim - dirigiu-se à recebedoria.
- O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
- Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
- Mil não: cem. A troco de devolução.
- Troco de devolução. Entenda-se.
- Pois devolvo e acabou-se.
- Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-se que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
- Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
- Questão absoluta.
- Louvo o seu escrúpulo.
- Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele.
- Quem disse isso?
- Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
- O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
- Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
- Impossível: tem de dar entrada no protocolo.

Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu-se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora. 


Gostei da crônica,pois o homem demonstrou ser honesto,e que quando queremos uma coisa devemos ir em busca dela,ser teimoso mesmo,se fosse outra pessoa teria pego o dinheiro,e ficado muito feliz em ter recebido a mais,e nem sequer iria pensar em devolver. 

O melhor amigo de fernando sabino

                                                          O melhor amigo

A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se voltasse
Para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu quarto.
– Meu filho? – gritou ela.
– O que é – respondeu, com o ar mais natural que lhe foi possível.
– Que é que você está carregando aí?
Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a cabeça? Sentindo-se perdido,tentou ainda ganhar tempo.
– Eu? Nada…
– Está sim. Você entrou carregando uma coisa.
Pronto: estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito era procurar comovê-la.Veio caminhando desconsolado até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:
– Olha aí, mamãe: é um filhote…
Seus olhos súplices aguardavam a decisão.
– Um filhote? Onde é que você arranjou isso?
– Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe?
Sabia que não adiantava: ela já chamava o filhote de isso. Insistiu ainda:
– Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.
– Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!
– Ah, mamãe… – já compondo uma cara de choro.
– Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.
O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto, emburrado:
A gente também não tem nenhum direito nesta casa – pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único amigo, enxotado desta maneira!
– Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou, lá do quarto, e ficou
esperando a reação da mãe.
– Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.
– Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
– Você não é todo mundo.
– Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não
faço mais nada.
– Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a sua costura.
– A senhora é ruim mesmo, não tem coração!
– Sua alma, sua palma.
Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo: tinha dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois… ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:
– Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.
– Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda: – Meu melhor amigo, não tenho mais
ninguém nesta vida.
– E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?
– Mãe e cachorro não é a mesma coisa.
– Deixa de conversa: obedece sua mãe.
Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque, complexos, essa coisa
– Pronto, mamãe!
E exibia-lhe uma nota de vinte e uma de dez: havia vendido seu melhor amigo por trinta dinheiros.
– Eu devia ter pedido cinqüenta, tenho certeza que ele dava murmurou, pensativo.


Eu gostei da crônica, pois ela é uma situação não muito comum na familia, a gente não pode um monte de coisas, é  que a mãe não deixa fazer.   

Doce Amizade - Laé de Souza

Doce Amizade

   Amigas, todo mundo precisa ter. Para fofocar, contar coisas boas que aconteceram conosco, aconselhar, ouvir. Mas têm umas e outras que "não é fácil". Tem a prestativa demais, que está sempre junto, mesmo quando não era para estar, e não se toca nem com umas diretas. Aquela que parece que adivinha nossos pensamentos. Começoua dar sede, ela já está com o copo d' água na mão, servindo cm maior delicadeza. Um amor! Só que têm horas que irrita tanta serventia.
   Tem a otimista demais. Aquela que, qualquer plano que você conta, ela tem certeza que vai dar certo e começa a fantasiar com seu sonho. Também tem a pessimista que te deixa no maior alto astral. Não adianta falar de pormenores que serão utilizados para chegar a seu objetivo que, mesmo assim, ela torce o nariz e diz que nãovai dar certo mesmo. Essas duas precisam estar sempre juntas para que se chegue a uma média ideal. Se ouvir só uma, decerto você estará numa fria. Tem, ainda, aquela sua amiga que mora lá não sei onde, que aparece em sua casa e fica alguns dias como se estivess de férias. E você trabalha, sua empregada trabalha e ela, numa boa, assistindo a filmes alugados na locadora em seu nome. Está certo que ela conta os melhores para você, mas não é a mesma coisa. Esta, pelo menos, é melhor do que antiga amiga do interior que ligou pedindo para ficar uns dias em sua casa, a fim de resolver um problema. Alojou-se, sem a menor discrição e nunca esteve nem aí se seu marido estava em casa ou não, e coloca aqueles shortinhos minúsculos. À noite, desfilava pela casacom lingerie de cores vivas. E, cada dia, com uma diferente. Lógico, até o dia em que você resolveu dar um basta.
   Existem duas maneiras de encerrar o turismo da amiga. Seja direta ou, então, dê aquela desculpa de vsitar uma tia que está doente. Sente muito... Com algumas, você tem que ser rápida e não dar tempo de ela se oferecer para ficar tomando da casa, enquanto você está fora. Tem aquela amiga, também, que não tem jeito. Você sabe que está sendo enrolada por ela, mas tem de se fazer de boba e engolir para ficar bem para as duas. Ela pede sempre uma coisa emprestada. Uma blusa para festa de aniversário a que foi convidada e dá certinho para usar com  sai dela, azul de bolinhas. Vem com aquele papo de que, passou a festa, pode contar que ela devolve, lavadinha, passadinha.
   Você olha, pelaúltima vez, a blusa e "empresta". Daí para frente, sempre tem uma dsculpa. Esqueceu, veio direto do servoço, saiu de casa com ela, mas passouna casa da tia e esqueceu o pacote. Até que, um dia, daqueles em que você quer pagar um favor que ela fez, fala que não precisa se preocupar e que é presente seu para ela. Mas, quando chega nessa hora, certamente, que há outras coisas que já foram "emprestadas". Existem algumas amigas que são tão esquecidas, que se apresentam em sua casa com a roupa que lhe foi emprestradae, na maior, não estão nem aí. Mas, não vamos exagerar, porque há algumas peças que são devolvidas. Tem uma coisa: geralmente, essa amiga, quando você precisa dela, está sempre pra te servir dsem medir sacrifícios.
   Tem aquele que aparece em casa e, mesmo você não estando, num dia quente, toma a ultima cerveja e ainda manda avisar que foi ele que tomou. Pede o carro emprestado e devolve com atraso, sem pedir desculpas e, ainda, com o tanque seco. O que empresta dinheiro e nunca mais toca no assunto. E você, lógico, fica constrangido de cobrar.
   Porém, isso tudo é excecão porque, geralmente, amigos e amigas sempre trazem coisas boas. A gente aprende, capta tranquilidade e bons fluidos. Uma coisa é certa: de um amigo a gente sempre precisa. Seja homen o mulher. E ainda: homem pode ter amizade com mulher e vice-versa, sem segunda intenções, numa boa.


Essa crônica me tocou muito, porque relata todos os tipos de amizade, existem vários tipos, mas todos são importantes para nós, portanto, nenhum pode faltar.

Paródia=Mãe exigente. Música=''Beijinho no ombro''.(Valesca Popozuda)


Desejo a todo esse menino vida boa
Pra que ele aprenda a respeitar os seus pais
E que seja inteligente na escola
Que chega em casa e de benção aos seus pais

Faça dele um menino obediente
Que depois da janta vai escovar os dentes
Mas vá já para a cama , e durma em paz
Se não eu pego e vou chamar o seu pai

REFRÃO:

Avise ao seu pai que o jantar está na mesa
Porque se não a sua mãe vai ficar fresca
Eu já te falei para você vir jantar
Porque se não depois não vai namorar

2 ESTROFE:

Ele gosta tanto de você meu garotinho
Por que tudo que ele faz é para o seu bem
Não chora não, que a mamãe está aqui
Nosso senhor não vai deixar nada acontecer

Acredito em Deus
Faço ele de escudo
Cresça e apareça não vai ser um vagabundo
Seja honesto e trabalhador
Siga seus estudos e se forme um professor.

REFRÃO:

Avise ao seu pai que o jantar está na mesa
Porque
se não a sua mãe vai ficar fresca
Eu já te falei para você vir jantar
Porque se não depois não vai namorar
                           

Do Rock - Carlos Heitor Cony

Tocam a campainha e há um estrondo em meus ouvidos. A empregada estava de folga, o remédio era atender o mau-caráter que me batia à porta àquela hora da manhã. Vejo o camarada do bigodinho com o embrulho largo e enfeitado.
— É aqui que mora a senhorita Regina Celi?
Digo que não e fulmino o importuno com um olhar cheio de ódio e sono, mas antes de fechar a porta sinto alguma coisa de íntimo naquele “senhorita Regina Celi”, sim, há uma Regina Celi em minha casa, minha própria filha, mas apenas de 12 anos, uma guria bochechuda ainda, não merecia o título e a função de senhorita.
Chamo o homem que já estava no elevador. Eram CDs, a garota encomendara um mundão de CDs numa loja próxima, e pedira que mandassem as novidades, pois as novidades estavam ali, embrulhadinhas e com a nota fiscal bem às claras.
Gemo surdamente na hora de assinar o cheque e recebo o embrulho. A garota dormia impune, o mundo podia desabar, e ninguém a despertaria do sono 12 anos. Deixo o embrulho em cima do som e volto para a cama, forçar o sono e a tranquilidade interior, abalada pelo cheque tão matutino e fora de propósito. Quando ordeno os pensamentos e ambições no estreito espaço do meu pensamento e retomo um sono e um sonho sem cor nem gosto, começa o rock.
Anos atrás, seria começa o beguine. Mas o beguine passou de moda, e o swing, o mambo, o baião e outras pragas vindas de alheias e próprias pragas. Pois aí estava o rock, matinal, cor de sangue e metal inundando o dia e o quarto com sua voz rouca, seu compasso monótono e histérico.
Purgo honestamente meus pecados e lembro o pai, que me aturava a mania pelos sambas de Ary Barroso. O velho não dizia nada, mas me olhava fundo e talvez tivesse ganas de me esganar. Mas me aturava e aturava o meu Brasil brasileiro.
Hoje, aturo o rock. Vou ao banheiro, lavo o rosto, visto um short e vou para a sala disposto a causar boa impressão à senhorita Regina Celi, que de babydoll, esbaforida, se degringola ao som de U2.
O tapete já fora arrastado e amarfanhado a um canto. Meu castiçal de prata foi profanado com a cara de um tipo até simpático que naquela manhã ganhará alguma coisa à custa do meu labor e cheque.
A senhorita Regina Celi tem a cara afogueada, os pés e as pernas avançam e ficam no mesmo lugar, o corpo todo treme e sua, até que ela me estende o braço.
— Vem, papai!
O peso dos meus invernos e minhas banhas causa breve hesitação. Mas ali estamos, eu e a senhorita Regina Celi, uma menina que ainda pego no colo e aqueço com meu amor e o meu carinho, quando ela tem medo do mundo ou de não saber os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas na hora do exame. Ela me chama e me perdoa.
Então, aumento o volume do som, espero o tal do U2 dar um grito histérico e medonho – e esqueço o cheque, a vida e a faina humana rebolando este cansado corpo-pasto de espantos – até que o fôlego e o U2 acabem na manhã e no som.



Gostei da maneira de como o autor misturou estilos musicais, valorizando a cultura brasileira e incluindo também  o rock, mas não como uma crítica e sim como uma coisa boa. Também a maneira de como os pais agem de acordo com as ações de seus filhos, mesmo fazendo as coisas pelas costas.

TRABALHO INFANTIL - Paródia da música Seu Astral Jorge e Mateus

Você não percebe
Mas o descuido é constante
O trabalho infantil
É uma pura covardia

Ninguém dá valor
Enquanto eles sofrem noite e dia
Trabalham, trabalham
Quando deveriam estudar

Faça chuva ou faça sol
Eles estão a trabalhar
Muitas vezes não percebemos
Mas deveriamos perceber

Pois enquanto não damos valor
Eles estão a sofrer

REFRÃO:
Enquanto você ri
Eles estão chorando
Enquanto você brinca
Eles estão trabalhando
Voltamos agora
Ao tempo da escravidão
Enquanto você brinca
Eles estão trabalhando

Pelo visto ninguém tem
O amor no coração
Mas oremos e pedimos
Pra que isso um dia acabe

E que depois não seja tarde
Vamos colocar no coração
E tirar do papel
Porque como no tempo da escravidão
Sempre tem uma princesa Isabel

REFRÃO: 
Enquanto você ri
Eles estão chorando
Enquanto você brinca
Eles estão trabalhando
Voltamos agora
Ao tempo da escravidão 
Enquanto você brinca
Eles estão trabalhando